
O presente artigo analisa o papel dos sistemas de preferências tarifárias e dos blocos econômicos como mecanismos de promoção do desenvolvimento e da integração econômica entre países, com ênfase na atuação do Brasil. Destacam-se o Sistema Geral de Preferências (SGP), instituído no âmbito da UNCTAD, e o Sistema Global de Preferência Comerciais entre Países em Desenvolvimento (SGPC), bem como as fases de integração econômica e sua relevância para o fortalecimento das relações internacionais e do comércio Sul-Sul. A análise considera ainda os desafios contemporâneos relacionados à governança global, sustentabilidade e inovação tecnológica.
A globalização econômica e a crescente interdependência entre nações exigem novos instrumentos de cooperação e desenvolvimento. Nesse contexto, os acordos internacionais, sobretudo os sistemas de preferências tarifárias, desempenham papel fundamental na redução de desigualdades comerciais e no fortalecimento das economias em desenvolvimento. O Brasil, como um dos maiores países em desenvolvimento, tem buscado ampliar sua inserção internacional por meio de estratégias que incluem participação em blocos econômicos e utilização de benefícios tarifários.
O Sistema Geral de Preferências (SGP)
O Sistema Geral de Preferências (SGP) foi instituído em 1971 no âmbito da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), com o objetivo de promover o desenvolvimento industrial de países em desenvolvimento por meio do acesso preferencial a mercados de nações desenvolvidas.
As principais características do SGP incluem:
Unilateralidade e não reciprocidade: os países desenvolvidos (outorgantes) concedem preferências tarifárias sem exigir contrapartidas;
Autonomia dos esquemas: cada outorgante define os produtos elegíveis, as margens de preferência e os critérios de origem;
Temporariedade: as concessões são revisadas periodicamente, podendo ser modificadas ou suspensas.
Países como Estados Unidos, União Europeia, Japão, Canadá, Noruega, Suíça, Austrália, Rússia, Belarus e Turquia mantêm programas próprios de SGP. O acesso aos benefícios depende da comprovação da origem das mercadorias, geralmente por meio de um Certificado de Origem válido.
O Sistema Global de Preferências Comerciais (SGPC)
O SGPC representa uma evolução conceitual em relação ao SGP, ao estabelecer concessões tarifárias recíprocas exclusivamente entre países em desenvolvimento. A proposta central do SGPC é fortalecer o comércio Sul-Sul, promovendo o crescimento econômico de forma mais equitativa e reduzindo a dependência de mercados desenvolvidos.
Os países participantes do SGPC negociam preferências comerciais de forma multilateral, progressiva, com base em critérios que buscam assegurar benefícios mútuos e equilibrados. Essa lógica fortalece cadeias de valor regionais, estimula a industrialização e amplia a cooperação técnica e produtiva entre países de realidades semelhantes.
Blocos Econômicos e Fases da Integração
A criação de blocos econômicos responde à necessidade de ganhos de escala, estabilidade econômica e influência geopolítica. Tais blocos seguem geralmente um processo de integração econômica em cinco fases, conforme proposto por Balassa (1961):
Zona de Livre Comércio – Eliminação de tarifas internas;
União Aduaneira – Tarifa externa comum;
Mercado Comum – Livre circulação de fatores de produção;
União Econômica – Coordenação de políticas econômicas e moeda única;
Integração Econômica Total – Unificação de políticas e governança supranacional.
A União Europeia representa o exemplo mais avançado dessa evolução, com moeda comum e instituições supranacionais. Já o Mercosul, do qual o Brasil é membro, encontra-se entre as fases de união aduaneira e mercado comum, enfrentando desafios de harmonização normativa e política.
Desafios Contemporâneos e Perspectivas Futuras
No contexto atual, marcado por tensões geopolíticas, crises ambientais e transição digital, os sistemas de preferências tarifárias e os blocos econômicos precisam se adaptar às novas realidades. Entre os principais desafios, destacam-se:
Sustentabilidade: inclusão de critérios ambientais e sociais nos acordos comerciais, alinhando-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Inovação e tecnologia: uso de ferramentas como blockchain para rastreabilidade de origem e inteligência comercial para identificação de oportunidades.
Governança multilateral: fortalecimento da cooperação entre países em desenvolvimento e diversificação dos parceiros comerciais.
Conclusão
Os sistemas de preferências tarifárias e os mecanismos de integração econômica constituem instrumentos estratégicos para a promoção do desenvolvimento sustentável, da equidade comercial e da cooperação entre nações. No caso do Brasil, o aproveitamento inteligente desses instrumentos, aliado a uma política externa ativa e inovadora, pode consolidar sua posição como líder regional e global no comércio internacional. O fortalecimento de alianças e a inserção qualificada em cadeias globais de valor devem ser prioridades no cenário geoeconômico atual.
Referências
BALASSA, B. The Theory of Economic Integration. Homewood, IL: Richard D. Irwin, 1961.
UNCTAD. Generalized System of Preferences Handbook on the Scheme of the European Union. Geneva: United Nations, 2020.
BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Acordos Internacionais de Previdência Social. Disponível em: www.gov.br/mre. Acesso em: abr. 2025.
Palavras-chave: Comércio internacional; Preferência tarifária; Integração econômica; Países em desenvolvimento; Blocos econômicos.
(imagem: canva)